Páginas

domingo, 25 de abril de 2010

A relação entre política, economia e mercado, a partir do estudo de Manuel Castells e entrevista concedida pelo mesmo sobre o livro.

Manuel Castell é um acadêmico e sociólogo, nascido na Espanha em 1942. Lecionou durante 12 anos na universidade de Paris. Em 2001, foi nomeado pesquisador da Universidade Aberta da Catalunha em Barcelona. Em 2003 tornou-se professor de comunicação na universidade da Califórnia do sul. Castells publicou mais de 20 livros, sendo a trilogia “A era da Informação: economia, sociedade e cultura”, publicados entre 1996 e 1998, sua principal obra. No primeiro livro dessa trilogia, Castells foi um dos pioneiros ao discutir o complexo tema das novas tecnologias, ainda incipientes, e seus efeitos no estado, na política, na economia e na sociedade como um todo.
No livro o Autor explica como se dá a formação de uma economia global, que estamos vivenciando e como isso interfere no governo, ou mesmo na comunicação e no desenvolvimento de tecnologias e linguagens. Segundo Castells, esse novo modelo de economia surgiu como consequência da crise de 1970, e expandio-se com o auxilio das novas tecnologias de informação. Durante o período de reestruturação de mercados financeiros dos países atingidos houve uma “explosão” de fluxos de financeiros internacionais, investimentos globais e uma internacionalização quase completa das atividades bancárias, através das instituições que buscavam ‘controlar’ a economia global, como o FMI e o Banco Global. Esse novo contexto, em que as tecnologias se mostram cada vez mais avançadas, intensificou as relações de mercado. Justamente essa nova interação – entre mercado, governo e instituições financeiras globais, criadas para ‘controlar’ esse modelo econômico – que possibilitou a implantação dessa economia global.
Essa necessidade de interação que surgia exigia uma ferramenta, uma linguagem, que garantisse círculos de retorno, pois as redes transitoriais dependiam disso para gerar a coordenação de produção e distribuição descentralizada. A informatica vinha cumprindo bem este papel, mas no fim da década de 1990 a Internet tornou-se a ferramenta chave para o suporte desse novo modelo econômico. Para o pesquisador espanhol a “Globalização Econômica só poderia acontecer com base nas novas tecnologias”.

De acordo com Castells no subcapítulo A economia política da globalização: reestruturação capitalista, tecnológica da informação e políticas estatais, a etapa contemporânea da globalização está caracterizada pela fase informacional do capital e dos modelos econômicos vigentes no mundo, essa nova fase é denominada pelo sociólogo como capitalismo informacional. A comunicação passou a fazer parte das estratégias empresariais, não só para aumentar os lucros, mas também para conquistar novos mercados (incluindo internacionais) e criando uma divisão internacional de mão-de-obra.
Em entrevista para o programa Roda Viva, na rede Cultura de televisão, Castells afirma que esse novo modelo econômico global se difere do antigo por ser um sistema no qual o lucro não é tão necessário e intrínseco a saúde financeira das empresas quanto o conhecimento. Exemplificando o proposto, o sociólogo afirmou que muitas empresas preferem investir seu capital em ações, mesmo tendo um certo prejuízo, mas sabendo que estão investindo em tecnologia, garantindo o futuro.
Os governos cumpriram um importante papel para esse processo de formação de uma economia global. Nos países ricos, G7, os governos, junto às instituições internacionais monetárias, se manifestaram de maneira intensa. As três políticas mais importantes, para Castells, são a desregulamentação das atividades domésticas; a liberalização do comercio e dos investimentos internacionais; e a privatização de empresas públicas. Essas políticas abriam as portas ao mercado externo e aumentavam a disputa por mercado, e a partit disto movimenta a economia, cria empregos e força as empresas a evoluirem para que possam conquistar espaço no mercado. Facilitam as transações financeiras, o comércio e a influencia cultural e política no país.
Ainda segundo o livro, os mecanismos para levar o processo de globalização aos países era basicamente pressão política para intermédio de atos e direitos do governo ou de imposição do FMI, do Banco Mundial ou da OMC. O capital global só poderia entrar no pais caso o mesmo tenha estabelecido uma economia liberalizada. Na teoria a ideia de uma economia global seria unificar as economias ao redor de um conjunto de regras “homogeneas” do jogo, como coloca o autor, para que o capital, os bens e serviços pudessem fluir para dentro e para fora do país. Ainda na teoria, esse modelo beneficiaria a todos, e o capitalismo global milagrosamente conseguiria a redução da pobreza e da desigualdade.
Na prática não acontecia bem assim. Muitas vezes, esses países que enfrentaram uma crise, recebiam propostas de crédito do FMI e do Banco Mundial. Aceitar esse crédito significaria credibilidade diante dos investidores, mas ao mesmo tempo implicaria em adequar-se ao que eles querem. Esses emprestimos contribuiram para a expansão da economia global, tanto que ao fim da década de 1990 o FMI apoiava mais de 80 países. Criando assim uma certa padronização da economia entre eles pois, para receberem o crédito era preciso adequar-se ao modelo normativo da instituição criada por seus economistas. Quem não aderisse a esse modelo seria punido com ostracismo financeiro, sendo isolado dos fluxos globais de capitais, tecnologia e comércio.
Trata-se de uma lógica auto-ampliável induzida e imposta pelo governo e essas instituições, que à medida em que mais pessoas aderem àquele modelo, mais intensa a “punição” por nçao aderir e maior a pressão por participar já que há muitos que participam. Mesmo assim conseguiu unir, ainda que quase à força, um segmento dinâmico, de várias nacionalidades, em uma economia aberta.
Um ponto relevante, muito abordado pelos entrevistadores no programa Roda Viva, é a questão da sustentabilidade desse novo modelo empresarial e econômico. Castells diz não acreditar que este modelo seja sustentável na forma como vem sendo trabalhado atualmente. “Então, eu acho que, se, neste momento, o modelo de produtividade do capitalismo informacional é tão dinâmico, é muito possível que continue se desenvolvendo com base neste setor da humanidade, excluindo, ao mesmo tempo, boa parte das pessoas, que não são interessantes. Além disso, há o problema de recursos naturais”, comenta.
Durante a década de 70, Castells teve um importante papel no desenvolvimento da sociologia urbana Marxista. Enfatizou o papel dos movimentos sociais na transformação conflitiva da paisagem urbana. Mas, apesar de ter origens no Marxismo, Castells não utilizou o famoso escritor do O capital em nenuma parte de suas obra. Observando tal fato, Castells foi indagado pelo jornalista Luis Weis, o motivo de tal esquecimento, se é que se pode chamar assim. Em resposta, Castells afirmou que o modelo antigo de Marx não é válido para entender o que é uma economia informacional e para entender o que é o atual processo de globalização.

Castells ainda afirma que ese novo modelo informacional gera ainda mais ilegitimidade política devido ao fato da política ter se midiatizado, mesmo o número de votantes nesse sistema democrático ter crescido substancialmente. "As pessoas votam contra, não a favor. As pessoas votam a favor do que lhes parece menos mau, como gesto de defesa contra o que pode ser ainda pior".

* fotos tiradas do site da chapa branca comunicação.

Nenhum comentário:

Postar um comentário